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Desde este espacio los invitamos a pensar, tanto los acontecimientos políticos como las producciones filosóficas y espirituales de nuestro continente y del Mundo Islámico, más allá de los presupuestos ideológicos a partir de los cuales se construye "la realidad" desde los medios masivos de comunicación y de los que se nutren, también, las categorías de análisis de buena parte de la producción académica.

Esperamos sus aportes.

domingo, octubre 30, 2011

Sufismo en Gharb Al-Andalus


Sufismo no Gharb Al-Andalus


Frederico Mendes Paula



“Eu quero ser nada…para poder compreender tudo”

Shaykh Hisham Kabbani


A derrota dos Almorávidas na batalha de Ourique marca o início de um novo período de fraccionamento do Andalus em reinos independentes, que ficou conhecido como os segundos Reinos de Taifas.

É um período conturbado e de digladiação de várias facções muçulmanas e destas com os cristãos, já que os Almorávidas em declínio, os Reinos de Taifas que logram a independência e os recém-chegados Almóadas detêm o poder em diferentes áreas da região.

Durante este período o Sul do Gharb Al-Andalus constitui-se no Reino da Taifa de Silves, inicialmente governada pela família dos Banu Al-Mallah, mas posteriormente dominada por aquele ficou na história como o grande Mestre do Sufismo no Gharb Al-Andalus, Abu Al-Qasim Ibn Qasi.

Se o período das primeiras taifas constituiu o expoente da poesia Luso-Arabe, representada por figuras como Al-Mu’tamid e Ibn Amar, as segundas taifas ficaram como o expoente da filosofia Misticista Islâmica, representada por Ibn Qasi e o movimento Muridíno.

Natural de Silves, Ibn Qasi era provavelmente um muladi, ou descendente de cristãos convertidos, de origem romana, dado que se pensa que o seu nome de família viria do romano Cassius.

Funcionário da alfândega de Silves opta por uma vida de meditação e recolhimento, entregando metade dos os seus bens aos pobres e refugiando-se numa Zauia ou Azóia onde inicia um caminho na busca de Deus, fundando uma confraria designada por Movimento Muridíno.

Essa Zauia daria origem ao famoso Ribat da Arrifana, em Aljezur, que constrói com a restante metade dos seus bens, e que se torna sede da sua Cavalaria Espiritual, e incluía uma mesquita, celas para os seus discípulos e cavalariças.

Os Muridínos tornam-se na força dominante da região, e acabam por conquistar o governo da taifa de Silves, de todo o Algarve e baixo Alentejo, por volta do ano 1144, combatendo para isso a família dos Banu Al-Mallah e os Almorávidas.

Ibn Qasi estabelece uma aliança com D. Afonso Henriques, que este simbolicamente sela oferecendo-lhe um cavalo, um escudo e uma lança, e que será a primeira estabelecida na Península entre muçulmanos e cristãos.

Esta aliança constitui a prova de que Muçulmanos e Cristãos gnósticos se encontram irmanados pelos mesmos ideais de tolerância e fraternidade e em clara oposição aos radicais de uma e outra religião.

Apesar de ter tido algum apoio dos Almóadas na sua guerra contra os Almorávidas, o poder de Ibn Qasi constitui um entrave á unificação política do Gharb Al-Andalus por esta facção Berbere e um desafio ao Islamismo ortodoxo e fanático profetizado por Ibn Tumart e Abdel-Mumen.

Ibn Qasi foi assassinado á traição em 1151 pelos Almóadas.

O movimento Muridine ainda manteve uma praça durante alguns anos, Tavira, governada por Ali Ibn Al-Wahibi, atacada pelos Almóadas dia e noite a partir de Cacela, a qual só foi conquistada quando o próprio Abdel Mumen comanda em 1167 uma força vinda de Marrocos.

O Sufismo é a via espiritual e mística do Islão, também chamada de Islão do coração ou Islão do amor, dado que os Sufis não se regem pela sua mente, mas pelos seus sentimentos.

É Islão da inteligência, da tolerância e da busca do conhecimento.

Para os Sufis toda a realidade comporta um aspecto exterior aparente e um aspecto interior escondido, ou seja gnóstico ou esotérico.

As origens do Sufismo remontam ao tempo do próprio profeta Muhammad (rassul Allah sallallâhu alayhi wa sallam), podendo advir dessa altura a própria designação Sufi do Árabe Ahl as-Suffa ou a gente do sofá, dado que os seguidores do Profeta se sentavam com ele num sofá na sua casa em Medina.

Outras possibilidades são ter origem na palavra Assafaa (pureza) ou as-Suf (a lã), dado que os primeiros sufis se vestiam com lã.

Este entendimento de que o Profeta foi o primeiro Sufi tem por base a forma esotérica e mística de como o Corão lhe foi revelado e o carácter de confraria existente entre ele e os seus mais próximos como sejam a sua filha Fátima e seu genro Ali Ibn Abu Talib, e incluindo a forma como a mensagem Corânica foi transmitida.

Cabe aqui uma referência à importância das mulheres no misticismo Sufi, que por via do islão ganharam um estatuto igual ao dos homens, sendo-lhes reconhecido o direito à herança e ao divórcio, coisa que na Europa ainda tardaria uns séculos.

Sobre isto disse o Profeta aos homens:

“Tendes direitos sobre as vossas mulheres e as vossas mulheres têm direitos sobre vós”.

Um dos grandes Mestres Sufis foi Ibn Arabi, nascido em Múrcia no século XII, já após a morte de Ibn Qasi, grande impulsionador do Sufismo no Andalus.

“Quando tu te conheces, o teu ego ilusório desaparece e tu não és outro senão Deus”…

Os Sufis buscam incessantemente o conhecimento e a sabedoria através da meditação, de práticas iniciáticas e da transmissão do conhecimento no seio de confrarias dirigidas por um Mestre ou Shaykh.

Essas práticas assentam não só no isolamento e solidão, como no êxtase e embriaguez da alma, como é exemplo a conhecida dança dos Derviches, confraria fundada por Mevlana Jala ad-Din Rumi no século XIII na Pérsia (em Persa Derviche significa mendigo, termo que faz referência ao despojar das riquezas que os Sufis preconizam).

Os sufis relacionam-se com Deus de forma directa e procuram o conhecimento no seu amor divino. Deus vive dentro de si.

“Perguntei _ Deus quem és tu? Respondeu-me _ Tu”

Acreditam que para isso o indivíduo deve despojar-se de todos os bens, mais do que de bens materiais, de ideias pré-concebidas, para poder viver em humildade.

A doutrina Sufi assenta no princípio de que existe uma verdade escondida e inatingível, ou seja, que a busca pelo conhecimento e perfeição é realizada com a noção de que o conhecimento e perfeição nunca serão atingidos.

O isolamento e refúgio das confrarias realiza-se em dois tipos de edifícios, dos quais em Portugal subsistem topónimos que os permitem localizar_ as Zauias ou Azoias, geralmente construções destinadas à meditação e transmissão do conhecimento, e os Ribat ou Arrábidas, que aliam a essa utilização o carácter de sede de ordem militar, no sentido de sede de confraria de Cavalaria Espiritual.

A Cavalaria Espiritual terá uma importância marcante na fundação de Portugal, já que veio a demonstrar, através da aliança realizada entre os Sufis de Silves e os Templários de Afonso Henriques, que os gnósticos Muçulmanos e Cristãos profetizavam de ideais e princípios muito semelhantes, como a justiça, tolerância e defesa dos fracos, e tão diferentes das correntes radicais da época (sejam o fanatismo Almóada ou o dos Cruzados).

Como escreveu Adalberto Alves na sua obra “As Sandálias do Mestre”, “o fim trágico de Ibn Qasi, como mártir da causa dos Muridínos, não foi em vão. A sua rebeldia, face ao poder almóada, tal como a rebeldia de D. Afonso Henriques, face a Leão e Castela, foram dois pólos espirituais do ideal sofiocrático que daria lugar ao surgimento de Portugal”.

O Sufismo nega a bi-polaridade e antagonismo dos conceitos e defende a existência da relatividade e da complementaridade _ sem morte não há vida, sem ódio não há amor.

A própria interpretação dos conceitos Corânicos recusa a interpretação imediatista do Corão, por exemplo, defendendo que a guerra santa ou Jihad é sobretudo uma guerra interior que os indivíduos travam contra si próprios no sentido de se aperfeiçoarem.

Ao afirmar-se como o Islão da inteligência, o Sufismo é a via capaz de devolver ao Islão o seu papel de doutrina espiritual compatível com uma sociedade moderna, democrática e igualitária entre sexos, separando a religião dos códigos civis e judiciais, e tirando a grande maioria dos países muçulmanos do obscurantismo e ignorância em que se encontram.



-ALVES, ADALBERTO _ “As Sandálias do Mestre”, Lisboa 2001

-ALVES, ADALBERTO _ “Portugal e o Islão Iniciático”, Lisboa 2007

INTERNET:

-BRAHIM _ “La Page du Soufisme”

-CATTA, HERVÉ MARIE _ “Le Soufisme”

-UNISSON _ “Le Soufisme, La Voie du Coeur de l’Islam”



Fuente: www.aventar.eu